No final de 1979 resolvi levar adiante um dos meus sonhos e ingressei no Instituto de Artes da Federal, me inteirar do oficio de pintar, conviver com o meio artístico, aprender, acrescentar conhecimentos.
Havia uma boa e animada turma e cheia de expectativas começamos a ter aulas de pintura. Iniciamos pela noção de desenho com bons professores como também técnicas de pintura incluindo as de aquarelas, guache, nanquim (bico de pena), óleo sobre tela, colagem e algumas poucas aulas de escultura em terracota.
Tive como professora de pintura a artista
Zaia Cardoso da PUC Goiás dona de uma preciosa técnica de pintura a óleo, a prendi primeiros traços de bico de pena. Ali também conheci técnicas para pintura em guache.
O único trabalho que tenho registrado dessa ocasião em meu acervo pessoal é esta tela que pintei por meio de uma fotografia que uma das minhas colegas ofereceu da casa das doceiras de Goiás Velho. Não sei qual delas era a casa citada.
Por ingenuidade ou modéstia, minhas primeiras telas eram assinadas simplesmente com meu primeiro nome: "Elma", como se houvesse apenas uma Elma no mundo.
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Como toda pintura de um artista iniciante, seus trabalhos carregam traços de estilo primitivo pela inexperiência com o desenho como na distribuição das cores.
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Meu primeiro bico-de-pena |
Mais tarde com um pouco de noção com traços, pincéis e tintas, passei a frequentar a
Centro de Arte Maria Guilhermina fundada pela escultora e pintora
Maria Guilhermina, doutora em Ciências das Artes – Escultura pela Universidade de Paris em
Sorbone.
Em sua escola de artes as margens do Córrego Botafogo, eu tinha uma visão privilegiada e ampla daquele trecho pela janela da sala frente ao cavalete. Na escola, recebia pessoalmente de Maria Guilhermina noções de pintura e muito incentivo, uma grande mulher apaixonada pelas artes.
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Margens do Córrego Botafogo - prêmio de seleção Banco do Brasil/ |
Eu tinha medo de pintar "errado", de fazer o ridículo e grosseiro, de não saber fazer as coisas certas tal meu respeito pelas artes.
Estimulada pelo artista e professor
Noé Luiz Mota fundador e construtor da
Catedral das Artes, um espaço
para divulgação de artes que tem como apoio do
Instituto Cultural Noé Luiz da Mota em Goiânia. Noé Luiz enquanto meu professor de pinturas estimulava a total liberdade de expressão artística e foi meu grande incentivador para fazer parte de um concurso de artes inaugurando assim minha participação em coletivas.
Noé Luiz foi quem me ensinou como pintar transparências em óleo s/ tela numa paisagem dos casarões de Goiás Velho cujo desenho foi feito in loco juntamente com nossa turma liderada por ele.
A tela "As margens do Botafogo" que ilustra essa postagem, deu-me o prêmio de (seleção) do Banco do Brasil - Associação Atlética do Banco do Brasil - Goiânia - . Esse foi um bom começo e os caminhos começaram a se abrir para mim.
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Assim se encontra hoje o córrego Botafogo - é o progresso |
Esse córrego hoje é todo canalizado, a paisagem natural desapareceu, dando lugar a prédios e a casas bem mais estruturadas. O tempo passa inexoravelmente e o progresso das cidades faz com que as paisagens mudem de aspecto. Hoje no local, toneladas de concreto escondem suas margens, a Mata Ciliar foi derrubada para dar lugar ao asfalto e da visão rústica e simples restou na minha lembrança apenas o registro dos meus pincéis. Não há mais barranco em suas margens, as garças brancas desapareceram e nem os lambaris que habitavam seu leito existem mais.
Elma Carneiro