De repente a gente começa a perceber que a criação pode vir de um amontoado de associações do nosso inconsciente adormecido, algumas delas com datas tão longínquas que até nos surpreendem. Tenho flashes de lembranças de fatos que me aconteceram na infância, a maioria que de uma certa forma deixou-me chocada e outros de extrema felicidade.
As associações podem nos chegar através uma cor como a do azul mar ou da flor do alecrim, um negro vem da escuridão da noite ou um sentimento de luto, um amontoado de estrelas brilhantes que me inspiram um salpicar de pontos brilhantes numa tela, o escorrer de um fio de água prateada em seu trajeto até o gotejo final, uma fresta de luz na escuridão, um círculo que pode lembrar a infância nas brincadeiras de roda ou um prato vazio.
Às vezes começo a imaginar o interior de uma folha, sua constituição interna e invisível, seus veios por onde corre a seiva, o som inaudível da trajetória do seu percurso até chegar no tamanho exato da sua forma, assim como
Paul Klee que criava os núcleos imaginários das frutas, folhas ou flores, isto é: de como ele pintava o que entendia como a essência das coisas. Paul Klee imaginava a essência, a vida interior, figurava em formas da mesma maneira de como podemos fazer a partir da combinação de ideias.
 |
Paul Klee - Em torno do núcleo - at the core um den kern 1935 |
Uma pequena poça d'água parada, os pedregulhos rentes ao chão, imagino que após a evaporação da água restará um amontoado deles com uma tênue camada de terra ou areia e se retiro um desses pedregulhos ele vai deixar ali a forma de uma pequena cratera que me lembra uma paisagem lunar. Elma✶✶✶
"Provindo de áreas inconscientes do nosso ser, ou talvez pré-conscientes, as associações
compõem a essência de nosso mundo imaginativo. São correspondências, conjeturas
convocadas à base de semelhanças, ressonâncias íntimas em cada um de nós com
experiências anteriores e com todo um sentimento de vida.
Espontâneas, as associações afluem em nossa mente com uma velocidade
extraordinária. São tão velozes que não se pode fazer um controle consciente delas. Ás vezes,
ao querer detê-las, elas já se nos escaparam. Embora as associações nos venham com tanta
insistência que talvez possam tender para o difuso, estabelecem-se determinadas
combinações, interligando-se idéias e sentimentos. De pronto as reconhecemos como nossas,
como sendo de ordem pessoal. Sentimos que, por mais inesperadas que sejam, as
constelações associativas condizem com o que, individualmente, seria um padrão de
comportamento específico nosso face a ocorrências que nos envolvam. Apesar de espontâneo,
há mais do que certa coincidência no associar. Há coerência". Fayga Ostrower